No dia 6 de janeiro está completando seis meses que chegamos no Canadá. De lá para cá, temos recebido muitas mensagens de pessoas que estão no processo ou que estão interessadas. As perguntas e as dúvidas, em geral, eram as mesas que nós também tínhamos. Hoje vou escrever um pouco sobre o nosso parecer da vida em Calgary, tendo como base os seis primeiros meses da nossa experiência de vida.
As despedidas:
Tentamos evitar ao máximo as despedidas. Aquele ar de não sei quando vou ver aquela pessoa que amamos novamente, é duro e difícil demais. O aeroporto, o momento de dizer adeus, para mim, foi sem dúvida o pior de todos. Tentei que fosse o mínimo de pessoas possíveis para o aeroporto quando partimos, mais ainda assim, acho que tinha umas vinte pessoas.
A passagem pela imigração:
A nossa viagem foi tranqüila, saímos de Recife com destino a Calgary e chegamos bem, todas as bagagens chegaram conosco, nem todas as malas em perfeito estado, mas já era esperado para uma viagem longa dessas. A passagem pela imigração em Toronto também foi tranqüila, o nosso processo foi por Québec, mas em momento nenhum o oficial de imigração fez perguntas a respeito disso.
A primeira semana:
Tivemos grande sorte de já termos amigos aqui em Calgary, que nos abrigaram até arrumarmos um emprego e um apartamento para alugar. Ficamos uma semana hospedados na casa de Cynthia e João.
As primeiras impressões da cidade:
A cidade é muito bonita e muito fácil de andar. As ruas no centro são todas numeradas o que facilita bastante quem está chegando. A cidade também é muito bem sinalizada o que ajudou bastante. É limpa, arrumada, organizada, bem espalhada. Gostamos logo de cara.
A busca por emprego:
Antes de chegarmos aqui já estávamos procurando emprego nas nossas áreas de atuação pela internet. Já chegamos aqui com alguns contatos e eu com entrevista marcada. Chegamos numa sexta – feira e na terça – feira da semana seguinte foi a minha primeira entrevista. No mesmo dia recebi uma ligação com uma resposta positiva. Esse trabalho seria para trabalhar no escritório de uma loja de luminárias, o salário, seria CAN$ 14 por hora. Pedi para começar a trabalhar na segunda – feira da semana seguinte, já que naquela primeira semana, estávamos resolvendo documentações, precisávamos também procurar um apartamento etc. Na sexta feira da mesma semana fui fazer uma outra entrevista, numa empresa de logística de alimentos, no mesmo dia recebi também uma resposta positiva, e como essa empresa pagava mais e além disso eu teria direito a outros benefícios, optei por esta ao invés da loja de luminárias. Uma semana após a nossa chegada eu já tinha recebido duas ofertas de emprego. Trabalhei mais ou menos um mês na empresa de logística de alimentos, até conseguir um emprego na empresa onde estou atualmente. Acreditamos que arrumei emprego tão rapidamente por alguns motivos: o primeiro é que já cheguei aqui com inglês fluente. Isso conta muito. Calgary tem muito emprego sim, mas também tem muita gente concorrendo a essas vagas, se você não fala inglês o suficiente para se comunicar com tranqüilidade, é muito difícil encontrar um bom emprego. O segundo motivo é a minha área de atuação tem processos seletivos bem mais rápidos do que outras áreas. O terceiro é que aproximadamente um mês antes de viajarmos eu já comecei fazendo contatos com empresas.
Para Renato as coisas não foram tão rápidas assim. O nível de inglês dele não era fluente. A área de atuação dele, informática, é uma área altamente especializada, onde os processos seletivos podem durar até 3 meses. E um outro motivo é que o currículo dele não estava nos padrões canadenses. Só que nós não sabíamos desse último detalhe. Ele pegou o currículo de alguns amigos e tentou colocar o dele no mesmo padrão, mas somente quando ele começou a freqüentar um workshop de três semanas de duração, oferecido pelo governo, que tem como objetivo inserir o imigrante no mercado de trabalho, ele ficou sabendo o que deveria e não deveria constar no currículo. A partir do início deste workshop as empresas começaram a ligar marcando entrevistas, e antes do workshop acabar, ele estava empregado, na área dele. Aproximadamente um mês e meio após a nossa chegada. Ele permaneceu nesta empresa por aproximadamente um mês, até conseguir o emprego na empresa onde ele está atualmente.
A busca pelo apartamento:
Já tínhamos visto alguns sites de alugueis de imóveis e para a nossa tristeza, não estava funcionando muito bem procurar pela internet, pois muitas vezes quando gostávamos de um, ligávamos e tínhamos a resposta que já havia sido alugado. Outras vezes ligávamos para marcar visita mas o horário do proprietário ou da empresa responsável não coincida com o nosso. Como nós também ainda não tínhamos carro, não dava para fazer muitas visitas no mesmo dia, se locomovendo com os transportes públicos. Então, na sexta feira, uma semana após a nossa chegada, resolvemos alugar um carro para facilitar a busca pelo apartamento. A tática utilizada foi a seguinte: dirigíamos ao redor de comunidades que gostaríamos de morar e ficamos de olho em placas: For Rent. Foi como deu mais certo, vimos alguns apartamentos naquele dia. O que não nos agradava eram os preços. Aluguel em Calgary é muito caro, se comparado a outras cidades, como Toronto e Montreal. A maioria dos apartamentos que vimos não gostamos por serem velhos e mal cuidados, uns cheiravam a cigarro. Outros não gostamos da planta. Até que vimos esse que moramos e adoramos. O que nos agradou logo de cara foi o fato do apartamento ser novo. Somos os primeiros moradores do apartamento. Queríamos um de dois quartos, acabamos ficando num de um quarto, mas estamos satisfeitos. Queríamos que fosse no centro da cidade, pois como não tínhamos carro naquela época, o acesso a transporte publico é mais fácil. Encontramos o apartamento no mesmo dia, fechamos negócio e no dia seguinte fizemos a mudança. O valor de um apartamento de um quarto no centro da cidade, fica em torno de
A saudade:
Esse ponto foi sem dúvida um dos que nos dava mais medo. Mas tem sido mais tranqüilo do que imaginávamos. A saudade é perfeitamente administrável, é bem verdade que usamos e abusamos dos artifícios da tecnologia. Sempre conversamos com as nossas famílias pelo MSN e SKYPE. Sempre nos vemos pela web cam. Além disso, temos um plano de telefone, onde temos 1000 minutos para ligar para o Brasil por mês, e não há restrição de dia ou de hora. Se der vontade de ligar, liga e pronto! Temos planos de irmos ao Brasil no fim do ano. E também sabemos que sempre que possível vamos receber visitas do Brasil. Em Agosto recebemos meus tios Gilson e Sandra, e agora estamos com meus pais aqui. Os pais de Renato também estão planejando uma visita esse ano. E assim a gente vai administrando a saudade.
O frio:
Ainda não passamos por todo o inverno, estamos no meio dele. Mas até agora também tem sido perfeitamente administrável. Cada dia que passa temos mais certeza que optamos pelo lugar certo. Calgary não neva muito, o que é um ponto muito positivo. Neve é bonitinho e tal, mas atrapalha bastante. Quando derrete vira lama, suja tudo e ainda pode causar acidentes. A temperatura mais baixa que pegamos até agora foi -26. Na última semana do mês de novembro, tivemos temperaturas bem baixas, mas foi só por uma semana. Todo o mês de dezembro a temperatura foi bem amena, passando para o lado positivo do termômetro quase todos os dias. Além disso em geral os dias são lindos, bem ensolarados, o que não da o ar de dia cinzento e depressivo. Pelo fato do clima ser seco, a sensação térmica (se não estiver ventando), é sempre mais alta do que a temperatura real. O que é necessário é ter um bom casaco de frio, e um bom sapato de frio. Com esses acessórios, tem sido tranqüilo, até agora, suportar o frio.
Comida:
Aqui tem tudo. Carne de boi, carne de charque, frango, peixe, camarão, carneiro, peru, caranguejo, carne de porco, coentro, tomate, cebola, salsa, cuminho, pepino, pimentão, brócolis, cenoura, couve, batata, feijão preto, feijão mulatinho, feijão verde, lentilha, arroz, macarrão, molho de tomate, molho branco, molho de queijo, molho madeira, macaxeira, amido de milho, farinha de trigo, farinha de rosca, farinha láctea, farinha de mandioca, cuscuz, leite ninho, leite branco, leite de chocolate, leite de morango, leite de baunilha, leite desnatado, leite de soja, leite de coco, leite condensado, creme de leite, Guaraná antártica, coco ralado, ovo de galinha, ovo de codorna, pão de alho, pão de queijo, pão francês, quindin, restaurante chinês, japonês, italiano, português e até churrascaria brasileira. Tem picanha sim! Tem panela de pressão, panela de arroz, panela normal, frigideira, panela que cozinha a vapor, panela que cozinha lentamente, conjunto de fondue tem tudo o que tem no Brasil. Nós não mudamos os nossos hábitos alimentares. Sempre cozinhamos comidas brasileiras e assim não sofremos tanto com saudades das comidas. Só não tem o feijão de Dona Rosa!
Amizades:
Nós estamos bem envolvidos e engajados com a comunidade brasileira
As dificuldades:
Sem dúvida a principal dificuldade que enfrentamos foi a incerteza do emprego de Renato nas primeiras 6 semanas de Canadá. Por mais que o governo diga que o tempo médio para o imigrante conseguir um emprego seja de três meses, nós queremos que com a gente aconteça tudo na primeira semana. Após Renato conseguir um emprego não lembro de nenhum momento triste ou difícil que passamos. Estamos é claro, em processo de adaptação. Há quem diga que esse processo dura um ano. Já estamos na metade, e até agora tem sido tranqüilo. Estamos Aprendendo a lidar com a falta da família, com o clima seco e frio, com a diversidade cultural, mas nada que não fosse previsto ou que não seja administrável.
A conclusão:
Cada dia que passa temos mais certeza que acertamos na decisão da escolha do país, da cidade e do momento. O Canadá nos recebeu de braços abertos e nos trata como se tivéssemos nascido aqui. Até agora, nenhum de nós passou por nenhuma situação de constrangimento ou de preconceito por sermos imigrantes. Os canadenses são acostumados com a imigração e têm consciência da importância da força e do trabalho dos imigrantes. Sabem conviver com a diversidade ética e cultural, e para nós tem sido um aprendizado gostoso conviver com as mais diferentes culturas. Gostamos de Calgary, e apesar de conhecermos poucas cidades no Canadá, achamos que moramos na melhor cidade do país. O lado negativo é o fato de ser uma cidade cara, o custo de vida é alto, mas é a cidade dos empregos. Aqui não falta emprego. É uma cidade calma, não é de muitas festas e farras. Fora o Stampede, que é uma grande festa que acontece na cidade no mês de julho, o restante do ano é uma cidade bem calma. Tem muitos shoppings centers, muitos restaurantes, cinemas, etc. O centro tem prédios antigos, mas a maioria são prédios bem modernos. A cidade é bem grande, bastante espalhada. Não tem muita neve e o frio tem sido suportável. Chegamos num momento onde a economia está crescendo bastante. A economia da província de Alberta tem crescido por conta o petróleo. As grandes empresas de óleo e gás tanto nacionais quanto estrangeiras estão em Calgary, com isso trás crescimento para todas as outras áreas da economia, de forma que quase todas as áreas profissionais aqui estão com necessidade de mão de obra.
Aqui nós podemos sair de casa a noite sem se preocupar onde vamos estacionar o carro, ou sem se preocupar em olhar ao redor antes de abrir o portão da garagem, ou do que pode acontecer no próximo semáforo. Aqui não se tem problemas com violência. Aqui a gente paga imposto, mas vê retorno. Todas as crianças na escola em tempo integral. Escolas públicas e de qualidade. Saúde publica, e segurança, eficiente. Tranqüilidade e segurança, foi o que viemos procurar, sim encontramos. Temos certeza que é aqui que queremos criar os nossos filhos.
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